1. (Uece)

Momento

Enquanto eu fiquei alegre,
permaneceram um bule azul com um descascado no bico,
uma garrafa de pimenta pelo meio,
um latido e um céu limpidíssimo
com recém-feitas estrelas.
Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios,
constituindo o mundo pra mim, anteparo
para o que foi um acometimento:
súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
alegre do que triste. Melhor é ser.

PRADO, Adélia. In: A Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2014 [1979], p.54.

Sobre a palavra “limpidíssimo”, é correto afirmar que está escrita no grau superlativo absoluto

a) analítico do adjetivo límpido.

b) sintético do adjetivo limpo.

c) analítico do adjetivo limpo.

d) sintético do adjetivo límpido.

2. (Uerj)

“Vestibular UERJ 2001. Construindo o cidadão do futuro.”

No enunciado acima, extraído de um folheto de divulgação deste Vestibular, o vocábulo “futuro” classifica-se gramaticalmente como substantivo. Se, entretanto, houvesse alteração para “Construindo o cidadão futuro”, a mesma palavra seria um adjetivo.

Casos como esse permitem considerar substantivos e adjetivos como nomes, que se diferenciam, sobretudo, pelas respectivas características a seguir:

a) invariabilidade mórfica – variabilidade em gênero e número

b) designação de seres e conceitos – expressão de um fenômeno

c) termo gerador de nomes derivados – resultado de uma derivação

d) papel sintático de termo núcleo – papel sintático de modificador de outro nome


Texto para as questões 3 e 4.

Os ideais da nossa Geração Y

Uma pesquisa inédita mostra como pensam os jovens que estão entrando no mercado de trabalho. Eles são bem menos idealistas que os americanos.

Quando o jornalista Otto Lara Resende, diante das câmeras de TV, pediu ao dramaturgo Nelson Rodrigues que desse um conselho aos jovens telespectadores, a resposta foi contundente: “Envelheçam!”. A recomendação foi dada no programa de entrevistas Painel, exibido pela Rede Globo em 1977. Pelo menos no quesito trabalho, os brasileiros perto dos 20 anos de idade parecem dispensar o conselho. Apesar de começarem a procurar emprego num momento de otimismo econômico, quase eufórico, os jovens brasileiros têm expectativas de carreira bem menos idealistas que os americanos e europeus – e olha que por lá eles estão enfrentando uma crise brava. É o que revela uma pesquisa da consultoria americana Universum, feita em 25 países. [...]. No estudo, chamado Empregador ideal, universitários expressam seus desejos em relação às empresas, em diversos quesitos. O Brasil é o primeiro país sul-americano a participar – foram entrevistados mais de 11 mil universitários no país de fevereiro a abril.

De acordo com o estudo, dois em cada três universitários brasileiros acham que o empregador ideal oferece, em primeiro lugar, treinamento e desenvolvimento – quer dizer, a possibilidade de virar um profissional melhor. A mesma característica é valorizada só por 38% dos americanos, que colocam no topo das prioridades, neste momento, a estabilidade no emprego. Os brasileiros apontaram como segundo maior objetivo a possibilidade de empreender, criar ou inovar, numa disposição para o risco que parece estar diminuindo nos Estados Unidos.

O paulista Guilherme Mosaner, analista de negócios de 25 anos, representa bem as preocupações brasileiras. “O trabalho precisa ser desafiador. Tenho de aprender algo todo dia.” Mosaner trabalha há um ano e meio em uma empresa de administração de patrimônio, mas acha improvável construir a carreira numa mesma companhia, assim como metade dos estudantes brasileiros entrevistados pela Universum. Entre as boas qualidades de um empregador, os universitários incluem seu sucesso econômico e a valorização que ele confere ao currículo. “A gente sabe que não vai ficar 40 anos em um mesmo lugar, por isso já se prepara para coisas novas”, diz Mosaner.

Apesar de mais pragmáticos, os universitários brasileiros, assim como os americanos e europeus, consideram como objetivo máximo equilibrar trabalho e vida pessoal. Quem pensa em americanos como viciados em trabalho e em europeus como cultivadores dos prazeres da vida talvez precise reavaliar as crenças diante da geração que está saindo da faculdade: o bom balanço entre trabalho e vida pessoal é a meta número um de 49% dos brasileiros, 52% dos europeus e... 65% dos americanos.

CORNACHIONE, Daniella. Época, 21 jun. 2010.

3. (AFA-SP) Assinale a alternativa que traz uma explicação pertinente ao emprego de numerais ao longo do texto.

a) Confere rigor matemático ao texto, tornando-o inquestionável.

b) Tem valor argumentativo e, portanto, reforça a ideia central do texto.

c) É indispensável porque o texto é jornalístico e traduz uma opinião do autor.

d) Relativiza o acentuado rigor matemático predominante no texto.

4. (AFA-SP) Sobre o texto, só não é correto afirmar que

a) a rotatividade do mercado faz com que os jovens brasileiros, mesmo estando bem empregados, busquem se capacitar cada vez mais.

b) as empresas preferem trabalhadores com perfis de sucesso econômico e currículo valorizado.

c) tanto brasileiros, quanto europeus e americanos valorizam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

d) o jovem brasileiro não cria expectativas quanto à sua permanência em uma única empresa durante toda a sua vida profissional.

5. (Uesc-BA)

Viajam de bonde silenciosamente. Devia ser quase uma hora, pois o veículo já se enchia do público especial dos domingos.

Eram meninas do povo envolvidas nos seus vestidos empoados com suas fitinhas cor-de-rosa ao cabelo e o leque indispensável; eram as baratas casemiras claras dos ternos, [...] eram as velhas mães, prematuramente envelhecidas com a maternidade frequente, a acompanhar a escadinha dos filhos, ao lado dos maiores, ainda moços, que fumavam os mais compactos charutos do mercado – era dessa gente que se enchia o bonde e se via pelas calçadas em direção aos jardins, aos teatros em matiné, aos arrabaldes e às praias.

Era enfim o povo, o povo variegado da minha terra. As napolitanas baixas com seus vestidos de roda e suas africanas, as portuguesas coradas e fortes, caboclas, mulatas e pretas – era tudo sim preto, às vezes todos exemplares em bando, às vezes separados, que a viagem de bonde me deu a ver.

E muito me fez meditar o seu semblante alegre, a sua força prolífica, atestada pela cauda de filhos que arrastavam, a sua despreocupação nas anemias que havia, em nada significando a preocupação de seu verdadeiro estado – e tudo isso muito me obrigou a pensar sobre o destino daquela gente.

BARRETO, Lima. O domingo. Contos completos de Lima Barreto. Organização e introdução de Lília Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 589.

No texto, faz-se presente a adjetivação, que é um traço avaliativo do narrador, mas que está ausente no fragmento transcrito em

a) “pois o veículo já se enchia do público especial dos domingos.”

b) “Eram meninas do povo envolvidas nos seus vestidos empoados com suas fitinhas cor-de-rosa ao cabelo”

c) “Era enfim o povo, o povo variegado da minha terra.”

d) “As napolitanas baixas com seus vestidos de roda e suas africanas”

e) “e tudo isso muito me obrigou a pensar sobre o destino daquela gente.”


Texto para as questões 6 e 7.

Uai, Eu?

Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto; que vale enterrar minhocas? De como aqui me vi, sutil assim, por tantas cargas d’água. No engano sem desengano: o de aprender prático o desfeitio da vida.

Sorte? A gente vai – nos passos da história que vem. Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que sempre fui arrimo de pai bêbedo. Só que isso se deu, o que quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tempos! Eu trabalhava para um senhor Doutor Mimoso.

Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama – olh’alegre, justo, inteligentudo – de calibre de quilate de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor, lençol e colcha, bom mesmo quando com dor-de-cabeça: bom, feito mingau adoçado. Versando chefe os solertes preceitos. Ordem, por fora; paciência por dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro poder ir ver seus chamados de seus doentes, tinha fechado um piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mão, dois animais de sela – prontos para qualquer aurora.

Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás, com a maleta dos remédios e petrechos, renquetrenque, estudante andante. Pois ele comigo proseava, me alentando, cabidamente, por norteação – a conversa manuscrita. Aquela conversa me dava muitos arredores. Ô homem! Inteligente como agulha e linha, feito pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado todo em sagacidades e finuras – é de fímplus! de tintínibus... – latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso, para ele, era fritada de meio ovo. O que porém bem.

ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

6. (Uerj) A obra de Guimarães Rosa, citado como grande renovador da expressão literária, é também reconhecida pela contribuição linguística, devido à utilização de termos regionais, palavras novas, não-dicionarizadas, a que chamamos neologismos, especialmente para expressar situações ou opiniões de seus personagens.

a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de neologismo e explique, em uma frase completa, o seu sentido no texto.

 “Desfeitio”. Na expressão “o desfeitio da vida”, pode-se ressaltar o sentido de que a vida não tem feição ou configuração certa.

b) Compare o adjetivo “inteligentudo” com barbudo, barrigudo, sortudo. Escreva duas formas da língua padrão – a primeira com duas palavras; a segunda com uma palavra – que equivalem semanticamente ao neologismo “inteligentudo”.

Uma entre as formas: muito inteligente, bastante inteligente, bem inteligente, deveras inteligente, assaz inteligente e inteligentíssimo.

7. (Uerj) Considerando a descrição que o narrador faz do personagem, justifique, com uma frase completa, se a imagem do personagem Doutor Mimoso pode ser depreendida como positiva ou negativa e a classe gramatical prioritariamente responsável por essa caracterização.

O personagem Doutor Mimoso é apresentado de forma favorável, com muitas qualidades positivas: “justo”, “inteligentudo” e “bom”. Trata-se do adjetivo.

8. (UEL-PR) Leia o texto sobre a origem da palavra “alvo” e responda aos itens a seguir.

ALVO - Adjetivo que significa “claro, branco”. Mas por que o adjetivo se tornou substantivo, com os significados de “ponto a que se dirige o tiro”, “ponto de convergência” ou “fim a que se dirigem desejos ou ações”? Nos estandes de tiros, usados para treinamento ou competição, usa-se um desenho de vários círculos concêntricos, com os maiores contendo os menores. De acordo com uma versão bastante difundida, o nome passou a ser usado porque o principal objetivo do atirador é acertar o círculo menor, o único que é inteiramente branco, ou alvo. Em português, alvo é sinônimo de branco, mas somente alvo tem o significado de “meta”. [...] Um dos termos relacionados com alvo é “álbum” [album, em latim], que na Roma antiga designava um painel branco onde eram afixados avisos de juízes e pretores. Hoje, “álbum” designa livro onde são coladas, entre outras peças, assinaturas, fotografias, poemas, letras de músicas etc.

BUENO, M. A origem curiosa das palavras. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. p. 18.

a) Com base no texto, é correto afirmar que “alvo” deixou de ser adjetivo para ser substantivo? Explique.

Não. A palavra “alvo” existe tanto como adjetivo (com o significado de “branco”) quanto como substantivo (com o significado de “meta”). Segundo o texto, o que antes era somente adjetivo passou a ser também substantivo: antigamente, em competições envolvendo mira, o ponto mais central de um desenho com círculos concêntricos era branco, ou “alvo”; logo, o que antes caracterizava a cor do círculo passou a designar o nome dele e, por extensão, de tudo aquilo que se quer mirar e atingir.

b) Segundo o texto, o que aproxima e o que afasta “album” de “álbum”?

As palavras “album” e “álbum” se aproximam se considerarmos não só o fato de “álbum” ter-se originado de “album”, mas também porque ambos são objetos em que se afixam/colam coisas: avisos, peças, assinaturas, fotografias, poemas, letras de músicas. Contudo, essas palavras se afastam na medida em que hoje o objeto mudou e não há mais relação com a cor.

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