1. (ENEM)

O pavão vermelho

Ora, a alegria, este pavão vermelho,

está morando em meu quintal agora.

Vem pousar como um sol em meu joelho

quando é estridente em meu quintal a aurora.


Clarim de lacre, este pavão vermelho

sobrepuja os pavões que estão lá fora.

É uma festa de púrpura. E o assemelho

a uma chama do lábaro da aurora.


É o próprio doge a se mirar no espelho.

E a cor vermelha chega a ser sonora

neste pavão pomposo e de chavelho.


Pavões lilases possuí outrora.

Depois que amei este pavão vermelho,

os meus outros pavões foram-se embora.


COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura, 2001.

Na construção do soneto, as cores representam um recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico

a) revela a intenção de isolar‑se em seu espaço.

b) simboliza a beleza e o esplendor da natureza.

c) experimenta a fusão de percepções sensoriais.

d) metaforiza a conquista de sua plena realização.

e) expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.


2. (UPF‑RS) Leia o excerto e considere, para a construção de seu sentido, as figuras de linguagem. Em seguida, assinale a alternativa que indica qual figura de linguagem predomina no excerto.

A faceta política do medo da morte e do abandono consiste numa presença maior do Estado como provedor da segurança perdida, enquanto possível solução de uma morte prematura e do abandono. Numa situação de epidemia, as pessoas tendem a pedir a intervenção do Estado, fornecendo-lhes condições de existência. Na guerra, o Estado toma a decisão de atacar outro país ou de se defender; na epidemia, a sociedade é atacada por um inimigo invisível, sem que o Estado nada tenha podido fazer.

ROSENFIELD, Denis Lerrer. A pandemia, o sentido da vida e a política. O Estado de S. Paulo, 30 mar. 2020. Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto, a-pandemia-o-sentido-da-vida-e-a-politica,70003252502. Acesso em: 30 mar. 2020.

a) Metáfora, já que está sendo empregado um sentido incomum a uma expressão “guerra”, a partir de uma relação de semelhança com “a situação de epidemia”.

b) Hipérbole, uma vez que há substituição lógica de uma palavra por outra semelhante (“epidemia” por “guerra”), mas é mantida uma relação de proximidade entre o sentido de um termo e o sentido do termo que o substitui.

c) Prosopopeia ou personificação, já que está sendo atribuída ação, qualidade ou sentimentos humanos a seres inanimados, por exemplo “inimigo invisível” que, neste caso, diz respeito a um vírus.

d) Comparação, uma vez que estão sendo aproximados dois termos (“pandemia” e “guerra”) a partir de uma caracterização – em ambas as situações – do Estado.

e) Eufemismo, já que há uma ideia expressa com exagero, resultando na sua ênfase ou destaque (“guerra”).


3. (ENEM)

O negócio

Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de pão e banana:

— Como é o negócio?

De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa:

— Deus me livre, não! Hoje não…

Abílio interpelou a velha:

— Como é o negócio?

Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se chegou:

— Como é o negócio?

Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada.

O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu:

— Como é o negócio?

Diante da recusa, ele ameaçou:

— Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!

TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979. (Fragmento.)

Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressivos, essa crônica tem um caráter

a) filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos vizinhos.

b) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento da vizinhança.

c) irônico, pois apresenta com malícia a convivência entre vizinhos.

d) crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de vizinhança.

e) didático, pois expõe uma conduta a ser evitada na relação entre vizinhos.


4. (Unifesp)

Então começou a minha vida de milionário. Deixei bem depressa a casa de Madame Marques – que, desde que me sabia rico, me tratava todos os dias a arroz-doce, e ela mesma me servia, com o seu vestido de seda dos domingos. Comprei, habitei o palacete amarelo, ao Loreto: as magnificências da minha instalação são bem conhecidas pelas gravuras indiscretas da Ilustração Francesa. Tornou-se famoso na Europa o meu leito, de um gosto exuberante e bárbaro, com a barra recoberta de lâminas de ouro lavrado e cortinados de um raro brocado negro onde ondeiam, bordados a pérolas, versos eróticos de Catulo; uma lâmpada, suspensa no interior, derrama ali a claridade láctea e amorosa de um luar de Verão.

[...]

Entretanto Lisboa rojava-se aos meus pés. O pátio do palacete estava constantemente invadido por uma turba: olhando-a enfastiado das janelas da galeria, eu via lá branquejar os peitilhos da Aristocracia, negrejar a sotaina do Clero, e luzir o suor da Plebe: todos vinham suplicar, de lábio abjeto, a honra do meu sorriso e uma participação no meu ouro. Às vezes consentia em receber algum velho de título histórico: – ele adiantava-se pela sala, quase roçando o tapete com os cabelos brancos, tartamudeando adulações; e imediatamente, espalmando sobre o peito a mão de fortes veias onde corria um sangue de três séculos, oferecia-me uma filha bem-amada para esposa ou para concubina.

Todos os cidadãos me traziam presentes como a um ídolo sobre o altar – uns odes votivas, outros o meu monograma bordado a cabelo, alguns chinelas ou boquilhas, cada um a sua consciência. Se o meu olhar amortecido fixava, por acaso, na rua, uma mulher – era logo ao outro dia uma carta em que a criatura, esposa ou prostituta, me ofertava a sua nudez, o seu amor, e todas as complacências da lascívia.

Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjetivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Sr. Teodoro; então, desvairada, a Gazeta das Locais chamou-me o extraceleste Sr. Teodoro! Diante de mim, nenhuma cabeça ficou jamais coberta – ou usasse a coroa ou o coco. Todos os dias me era oferecida uma presidência de Ministério ou uma direção de confraria. Recusei sempre, com nojo.

QUEIRÓS, Eça de. O mandarim. s/d.

“Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar adjetivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Sr. Teodoro; então, desvairada, a Gazeta das Locais chamou‑me o extraceleste Sr. Teodoro!”

Nesta passagem do último parágrafo, identifica‑se uma

a) hipérbole, por meio da qual o narrador enfatiza a intensidade de atenção recebida da imprensa portuguesa.

b) gradação, por meio da qual o narrador reforça a ideia de bajulação posta em prática pelos jornais portugueses.

c) ironia, por meio da qual o narrador refuta o tratamento que lhe dispensavam os jornalistas portugueses.

d) redundância, por meio da qual o narrador deixa entrever o modo como as pessoas lhe especulavam a vida.

e) antítese, por meio da qual o narrador explica as contradições dos jornais portugueses ao tomarem‑no como assunto.


5. (ENEM) 

Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema sobre a sua relação com as pequenas e grandes cidades.

Bicho urbano

Se disser que prefiro morar em Pirapemas

ou em outra qualquer pequena cidade do país

estou mentindo

ainda que lá se possa de manhã

lavar o rosto no orvalho

e o pão preserve aquele branco

sabor de alvorada.

.....................................................................

A natureza me assusta.

Com seus matos sombrios suas águas

suas aves que são como aparições

me assusta quase tanto quanto

esse abismo

de gases e de estrelas

aberto sob minha cabeça.

GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991.

Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do homem com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.

a) “ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no orvalho”

b) “e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada.”

c) “A natureza me assusta. / Com seus matos sombrios suas águas”

d) “me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de gases e de estrelas”

e) “suas aves que são como aparições / me assusta quase tanto quanto”


6. A questão a seguir compôs a edição 2020 do Enem.


Essa campanha de conscientização sobre o assédio sofrido pelas mulheres nas ruas constrói‑se pela combinação da linguagem verbal e não verbal. A imagem da mulher com o nariz e a boca cobertos por um lenço é a representação não verbal do(a)

a) silêncio imposto às mulheres, que não podem denunciar o assédio sofrido.

b) metáfora de que as mulheres precisam defender‑se do assédio masculino.

c) constrangimento pelo qual passam as mulheres e sua tentativa de esconderem‑se.

d) necessidade que as mulheres têm de passarem despercebidas para evitar o assédio.

e) incapacidade de as mulheres protegerem‑se da agressão verbal dos assediadores.

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