Segunda-feira, 28 de dezembro de 1992

Quanta coisa eu fiz nestes últimos dias!

Hoje fiquei em casa. Tive minha primeira aula de piano. Que abraço apertado nós nos demos, Biljana Čanković e eu. Desde março a gente não se via. Depois nos dedicamos a Czerny, Bach, Mozart e Chopin – um estudo, uma fuga, uma sonata e uma peça. Foi uma barra. Mas, como não vou mais à escola, vou poder me dedicar ao piano. Que bom! Você sabe, Mimmy, na escola de música estou no quinto ano. 

Estamos sem água – e quanto à eletricidade, a coisa vai mais ou menos.

Quando eu saio e não há tiros, fico com a sensação de que a guerra acabou, mas os cortes de água e eletricidade, o inverno, a falta de lenha e de comida me trazem para a realidade e percebo que a guerra continua por aqui. E por quê? Por que esses “moleques” não entram num acordo? Estão se divertindo à beça. A nossas custas.

Escrevo para você sentada na mesa, dear Mimmy. Estou vendo papai e mamãe. Os dois estão lendo. Quando eles levantam os olhos do livro, ficam pensando. Em que eles pensam? No livro que estão lendo? Ou será que tentam recolher os pedaços que a guerra espalhou? Sinto uma coisa esquisita vendo os dois assim. À luz da lamparina (como nossas velas acabaram, fabricamos lamparinas com óleo) eles me parecem cada vez mais tristes. Olho para papai. Como ele emagreceu! Perdeu vinte quilos pesados na balança, mas quando olho tenho a impressão de que deve ter sido até mais. Dá a impressão de que os óculos ficaram grandes demais para seu rosto. Mamãe também emagreceu muito. Parece que ela murchou, a guerra cavou rugas em seu rosto. Meu Deus, o que esta guerra fez de meus pais!... Eles já não se parecem com meu pai e minha mãe. Será que tudo isso acaba um dia, será que nossos sofrimentos em breve vão chegar ao fim para que eles voltem a ser o que eram – pessoas alegres, sorridentes, elegantes?

Esta guerra estúpida destrói minha infância e estraga a vida de meus pais. Mas POR QUÊ? STOP THE WAR! PEACE! I NEED PEACE!

Tudo bem, vou jogar uma partida de cartas com eles!

Zlata, que ama você.

ZLATA FILIPOVIC´. O diário de Zlata: a vida de uma menina na guerra. Trad. Antonio de Macedo Soares e Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 112-113.


1. Marina e Zlata iniciam sua página de diário com o dia, o mês e o ano em que escrevem. Por que as datas são importantes nesse gênero? 

Porque contextualizam os acontecimentos, relacionando-os à idade do autor, à época do ano etc.

2 Em seu texto, Zlata conta como ela e a família viviam durante a guerra. 

a) No início do relato, por que a menina está feliz?

Zlata está feliz porque voltou a ter aulas de piano.

b) No segundo parágrafo, a garota mostra que a guerra provocou uma importante alteração em sua rotina. O que aconteceu?

Zlata deixou de ir à escola. Comente com os alunos que a escola de Zlata foi fechada quando a cidade começou a ser bombardeada, reabrindo quase um ano depois.

c) Que privações materiais a família de Zlata sofreu naquele período?

A família de Zlata enfrentou cortes de água e luz e falta de lenha e comida.

d) Zlata chama de moleques os líderes dos exércitos em conflito. O que o uso dessa palavra revela sobre a opinião da menina? Por quê? 

O emprego de moleques revela uma opinião crítica, pois sugere que os líderes são irresponsáveis.

3. Além de apresentar fatos e narrar ações, os diários apresentam sequências de textos com outras finalidades. 

a) Zlata percebe que a guerra afetou seus pais. O que ela observa?

Zlata nota que os pais estão desatentos e tristes. Arma que ambos emagreceram e que o rosto da mãe ganhou rugas. 

b) No parágrafo em que a menina trata desse tema, predomina o relato de ações ou a reflexão? 

A reflexão.

c) Além de expor um fato, o que mais a frase a seguir revela: “Como ele emagreceu!”? 

O sentimento de pena, de dor da menina.

d) Ao referir-se à guerra como “estúpida”, Zlata faz uma descrição objetiva ou apresenta um ponto de vista pessoal (subjetivo)? Justifique sua resposta. 

Apresenta um ponto de vista pessoal, pois expressa uma opinião.

4. Quando Zlata escreveu seu diário, não sabia se seria publicado. 

a) Para quem ela escrevia inicialmente? 

Zlata escrevia para ela mesma.

b) Após a publicação, quem passa a ser seu leitor?   

Todas as pessoas que leem a obra.

c) Em sua opinião, por que houve interesse em publicar esse diário?  

Resposta pessoal. Porque, ao tratar de um período de guerra, tornou-se um documento histórico.

d) Levante uma hipótese: que alterações podem ser necessárias no texto para que ele possa ser publicado?

Resposta pessoal.

Em geral, o leitor de um diário é o próprio autor. Trata-se de um texto particular, íntimo, usado para registro pessoal, por isso a linguagem costuma ser mais descontraída, com palavras e frases simples, embora alguns autores tenham um estilo mais elaborado. Quando publicados, os diários ganham leitores diversos, e sua linguagem e conteúdo podem sofrer alterações para se adequar a uma comunicação pública.


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