Leia a reportagem a seguir para responder às questões propostas. 

Jovem da periferia de São Paulo que chegou a Harvard sonha em mudar educação brasileira e entrar para a política

Néli Pereira
De São Paulo para a BBC Brasil 17 dezembro 2017 



A mãe de Tabata Amaral de Pontes acaba de completar o ensino médio. O pai, que lutava contra o vício em drogas, morreu sem ter terminado o ensino fundamental.

Já Tabata entrou para uma das melhores universidades do mundo, aos 18 anos, com bolsa integral, quando já havia representado o Brasil em cinco competições internacionais de ciências.

Ela cresceu na periferia de São Paulo, no bairro da Vila Missionária, a cerca de 30 quilômetros do centro. O pai era cobrador de ônibus e a mãe, vendedora e diarista.

O bom desempenho em olimpíadas escolares fez com que Tabata ganhasse uma bolsa do colégio particular Etapa, para cursar o ensino médio. A instituição chegou a pagar um hotel perto da escola para ela morar, uma vez que os pais não tinham condições de arcar com as despesas de transporte e de alimentação.

Ao terminar o ensino básico, a jovem deu aula de Química e Astrofísica no colégio, antes mesmo de entrar na faculdade.

Apesar de ter garantido uma vaga no curso de Física na Universidade de São Paulo (USP), Tabata sonhava em estudar fora. Ela se candidatou, então, a bolsas de estudo e foi aceita em seis das principais universidades americanas: Harvard, Yale, Columbia, Princeton, Pensilvânia e o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). Optou por Harvard.

Hoje, aos 23 anos, ela é formada em Ciências Sociais e Astrofísica. E é fundadora de dois movimentos nacionais: o Mapa da Educação e o Acredito.

Apesar da origem humilde, ela se recusa a atribuir suas conquistas à meritocracia.

“Por muito tempo, a minha história foi contada quase que como uma história de herói, de um exemplo de ‘quem quer, consegue, é só se esforçar’. Mas isso não está certo. De fato, eu me esforcei muito, mas é preciso ter acesso a oportunidades e a crença de que você pode sonhar diferente, sonhar grande.”, afirma.

“Mas a gente está em um país onde há muitas desigualdades. Minha crítica não é quanto à meritocracia em si, mas em querer aplicar a meritocracia quando o ponto de partida é desigual.”, acrescenta.

Tabata conversou com a BBC Brasil do aeroporto de São Paulo, após dar uma palestra em uma escola pública. De lá, seguiria para o Rio de Janeiro e Salvador, onde também participaria de um evento com alunos da rede pública.

“Na palestra em Parelheiros (extremo sul de São Paulo), perguntei: ‘Quem nasce aqui tem que se esforçar o mesmo tanto de quem nasce no centro?’. E todos responderam ‘Não, a gente precisa se esforçar muito mais!’.”

Política e educação

Em sua tese de graduação, Tabata estudou a interferência da política na educação no Brasil e visitou dezenas de secretarias de educação municipais. Para ela, essa relação ainda é nociva no Brasil. “A educação é uma grande moeda de troca nesse país. A gente não teria a pachorra de fazer o que se faz com a pasta da Educação com a Fazenda, por exemplo. A educação precisa ser mais técnica e sofrer menos com a politicagem. A política é um grande empecilho para a educação de qualidade, e ela tem que ser o motor disso.”, avalia.

Apesar de reconhecer os avanços nas últimas décadas, Tabata afirma que os desafios continuam enormes.

“Há um consenso no meio da educação de que a maior vitória das últimas duas décadas foi o acesso. Temos que comemorar, pois temos quase 100% das crianças no ensino fundamental, apesar de o ensino médio ainda ser uma calamidade. Mas não adianta nada dar acesso e não ter qualidade.”

Renovação política

Ainda no ensino médio, Tabata já se destacava nas ciências exatas. Foi campeã de diversas olimpíadas escolares e colecionou medalhas em Química, Matemática e Robótica, entre outras áreas.

Mas, ao ser aprovada em Harvard, perdeu o pai para as drogas e viu o irmão mais novo, Allan, aluno de escola pública, desistir de fazer faculdade ao não conseguir passar em nenhum vestibular.

Esse cenário, aliado à vontade de transformar a educação pública, levou a jovem a escolher o curso de Ciências Políticas, deixando a Astrofísica como segunda opção.

“Acho que tem um preconceito com a política e com o estudo dela aqui no Brasil. Na minha turma, os melhores alunos faziam estágio e iam trabalhar na

Casa Branca. Aqui no Brasil, isso jamais aconteceria. As pessoas se formam e querem ir para o mercado de trabalho, não para o governo ou para a política.”, diz.

“Eu fiz ‘government’ (governo), que é o segundo curso com mais prestígio em Harvard, isso também não aconteceria aqui – a gente olha como se tudo fosse sujo, corrupto, algo com que a gente não quer se envolver.”, acrescenta.

Tabata quer se envolver — e já começou a organizar algumas iniciativas.

[...]

PEREIRA, Néli. BBC Brasil, 17 dez. 2017.
Disponível em: <www.bbc.com/portuguese/brasil-42317179>. Acesso em: 18 dez. 2017.


1. A reportagem lida traz como protagonista a jovem Tabata Amaral de Pontes, uma brasileira que “entrou para uma das melhores universidades do mundo, aos 18 anos, com bolsa integral, quando já havia representado o Brasil em cinco competições internacionais de ciências”.

a) A informação apresentada a respeito de Tabata condiz com a realidade de vida da jovem?

Explique sua resposta.

A informação veiculada sobre a jovem Tabata não condiz com a realidade de vida dela, pois, conforme as informações veiculadas sobre a estudante, trata-se de uma menina de família pobre, da periferia de São Paulo, filha de pais humildes (o pai era cobrador de ônibus e a mãe, vendedora e diarista), que só conseguiu cursar o Ensino Médio em uma boa escola particular porque ganhara uma bolsa de estudos. O pai da jovem morreu tentando se livrar das drogas, a mãe concluiu apenas o Ensino Médio e o irmão desistiu da faculdade após não ser aprovado em nenhum vestibular.

b) Como se explica o fato de que, apesar da dificuldade enfrentada pela família, a jovem conseguiu realizar os estudos do Ensino Médio em um colégio particular?

Em função do bom desempenho que tinha em olimpíadas escolares, Tabata ganhou uma bolsa do colégio particular Etapa para cursar o Ensino Médio. A instituição chegou a pagar um hotel perto da escola para ela morar, uma vez que os pais não tinham condições de arcar com as despesas de transporte e de alimentação.

2. Em certo trecho da reportagem, lemos o seguinte: “Hoje, aos 23 anos, ela é formada em Ciências Sociais e Astrofísica. E é fundadora de dois movimentos nacionais: o Mapa da Educação e o Acredito. Apesar da origem humilde, ela se recusa a atribuir suas conquistas à meritocracia.”

a) Por que, diante das conquistas alcançadas, Tabata afirma que nada disso se deve à meritocracia? Leia o significado do termo meritocracia, no Glossário, e analise essa definição, considerando o contexto, para responder a essa questão.

Ao longo da leitura, é possível perceber que Tabata não concorda com a afirmação de que a história dela sempre foi considerada quase como uma história de herói, de um exemplo de “quem quer, consegue, é só se esforçar”. Segundo a jovem, sempre houve esforço por parte dela; no entanto, segundo ela, é preciso ter acesso a oportunidades e, ainda, há a crença de que você pode sonhar diferente, pode sonhar grande para dar um novo rumo à própria história.

b) E por que, apesar de não ser contra a meritocracia, ela não acredita nessa condição? Justifique sua resposta.

Segundo Tabata, há muita desigualdade no Brasil, e não dá para pensar em meritocracia quando o ponto de partida é desigual, quando a base de acesso não é a mesma para todas as pessoas.

3. Releia este trecho extraído da reportagem.

A educação é uma grande moeda de troca nesse país. A gente não teria a pachorra de fazer o que se faz com a pasta da Educação com a Fazenda, por exemplo. A educação precisa ser mais técnica e sofrer menos com a politicagem. A política é um grande empecilho para a educação de qualidade, e ela tem que ser o motor disso. 

Pense no contexto apresentado na reportagem e nessa fala de Tabata e explique por que motivo a jovem considera a política um empecilho para que exista uma educação de qualidade no Brasil?

Para Tabata, a política brasileira está muito mais preocupada com outros setores do que com a educação, pois muito se tem feito para garantir o acesso à escola, para se garantir uma questão de números, de indicadores, mas pouco em relação a garantir a qualidade do ensino no país.

4. Releia este outro trecho e responda ao que se pede.

Ainda no Ensino Médio, Tabata já se destacava nas ciências exatas. Foi campeã de diversas olimpíadas escolares e colecionou medalhas em Química, Matemática e Robótica, entre outras áreas.

a) Qual é a formação acadêmica de Tabata?

Ela formou-se em Ciências Sociais e Astrofísica.

b) Após ser aprovada em Harvard, por que a universitária optou por Ciências Políticas?

A perda do pai, a desistência do irmão de tentar um curso superior, em função de não ter passado em nenhum exame vestibular, e o desejo dela de transformar a educação pública levaram-na a optar por esse curso, deixando a Astrofísica como segunda opção.

5. Quase no fim do texto, Tabata Amaral de Pontes afirma que, na visão dela, há certo preconceito, no Brasil, em relação à política e ao estudo dessa ciência. Com base em que ela chega a essa conclusão? Comente sua resposta.

Tabata afirma isso, pois, na turma em que ela estudava, os melhores alunos faziam estágio e iam trabalhar na Casa Branca. Já no Brasil, segundo ela, isso jamais aconteceria, uma vez que as pessoas se formam e querem ir para o mercado de trabalho e não para o governo ou para a política. Nos Estados Unidos, o segundo curso com maior prestígio em Harvard é Government, já no Brasil, isso não acontece, porque a política é vista como algo sujo, corrupto, com o qual ninguém quer se envolver.

6. No excerto “Em sua tese de graduação, Tabata estudou a interferência da política na educação no Brasil e visitou sete secretarias de educação municipais”, qual é o significado do termo destacado? Comente sua escolha.

a) (  ) Aquilo que se propõe discutir ou debater; proposição que se faz para ser defendida caso haja contestação.

b) (X) Proposição acerca de um princípio artístico ou científico que, exposta de modo escrito, deve ser defendida publicamente.

O termo tese, aqui, refere-se a um trabalho apresentado para a obtenção de um título, no caso, de conclusão de um curso de graduação. Trata-se de um trabalho escrito que, apresentado a uma “banca”, passa por uma avaliação.

7. O texto que você acabou de ler é uma reportagem, texto que faz parte dos gêneros jornalísticos. Em linhas gerais, as partes que compõem uma reportagem são descritas a seguir.

Título ou manchete: título principal da reportagem que, geralmente, é escrito com letras maiúsculas e em destaque.

Título auxiliar ou subtítulo: um complemento do título principal que visa proporcionar um maior interesse por parte do interlocutor. Também é conhecido como linha-fina.

Imagem: recurso que pode ou não estar presente; é uma estratégia para chamar a atenção dos leitores.

Lide: pequeno resumo que aparece depois do título, nas linhas iniciais da matéria, para chamar a atenção do leitor. Pode responder às seguintes questões: Como? Onde? Quando? Por quê? Quem?, ou apenas funcionar como uma prévia do assunto que será tratado no corpo do texto.

Corpo do texto: desenvolvimento do assunto abordado, é um texto maior do que a notícia, com linguagem direcionada ao público-alvo.


Sabendo disso, responda ao que se pede.

a) Transcreva a manchete e o subtítulo da reportagem lida.

Manchete – “Jovem da periferia de SP que chegou a Harvard sonha em mudar educação brasileira e entrar para a política”; Subtítulo – “A mãe de Tabata Amaral de Pontes acaba de completar o ensino médio. O pai, que lutava contra o vício em drogas, morreu sem ter terminado o ensino fundamental”.

b) Identifique, no primeiro parágrafo, os elementos correspondentes ao lide: “Como?”, “Onde?”, “Quando?”, “Por quê?” e “Quem?”.

Como: com uma bolsa integral de estudos; Onde: em uma das melhores universidades do mundo (Harvard); Quando: aos 18 anos, quando já havia representado o Brasil em cinco competições internacionais de ciências; Por quê: para fazer a faculdade; Quem: Tabata.

8. Em quantas partes essa reportagem está dividida? Como cada uma dessas partes está indicada?

Essa reportagem está dividida em três partes, cada uma delas representada por um título e dois subtítulos, que são, respectivamente, “Jovem da periferia de São Paulo que chegou a Harvard sonha em mudar educação brasileira e entrar para a política” e “Renovação política”.

9. Qual é a função das aspas apresentadas ao longo do texto?

Nesse contexto, as aspas indicam um discurso direto, ou seja, a fala da jovem Tabata Amaral de Pontes.

Professor, caso seja necessário, relembrar o conceito de discurso direto e indireto estudado no 6°- ano.


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