Leia a crônica a seguir, do escritor Rubem Braga, um cronista por essência que, com muito lirismo, tratou em seus textos de algumas cidades brasileiras.


Quedas do Iguaçu

Chegamos, e então aquilo tudo está acontecendo de maneira urgente, o mato, água, as pedras, o ar. Aquilo está havendo naquele momento, como o movimento de um grande animal bruto e branco morrendo, cheio de uma espantosa vida desencadeada, numa agonia monstruosa, eterna, chorando, clamando. E até onde a vista alcança, num semicírculo imenso, há montes de água estrondando nesse cantochão, árvores tremendo, ilhas dependuradas, insanas, se toucando de arco-íris, nuvens voando para cima, como o espírito das águas trucidadas remontando para o sol, fugindo à torrente estreita e funda onde todas essas cachoeiras juntam absurdamente suas águas esmagadas, ferventes, num atropelo de espumas entre dois muros altíssimos de rocha.

E na terra em que pisamos junto ao abismo, a cara molhada, os pequenos bichos do mato se movem num perpétuo susto como se nosso movimento fosse uma traição acobertada pelo estrondo dessa catedral caindo absurda para as nuvens de vapor e espuma com toda uma orquestra de órgãos estrondando. Um avião passeia sobre as cataratas, mas ele ronda alto, como se tivesse medo de ser tragado pela respiração do monstro de água vibrando no ar. Do lado argentino, uma longa ponte sobre os saltos e um sábio caminho entre a floresta nos leva à intimidade de muitos saltos, num passeio maravilhoso que é um equilíbrio entre o idílico e o trágico, entre o mais suave segredo do mato e da água, o mais tímido murmúrio nas pedras e o grande estrondo da massa precipitando no ar.

Um bando de papagaios passa para um lado gritando; como em resposta vem depois, da mata escura, um bando de tucanos que, ao pousar, parecem estudar o equilíbrio entre o corpo e os grandes bicos coloridos. As borboletas invadem os caminhos e as picadas, bandos e mais bandos, amarelas, vermelhas, azuis, com todos os caprichos do desenho e da cor, avançando no seu voo desarrumado e trêmulo, como flores tontas caídas da floresta sobre os caminhos úmidos.

Não, não há como descrever as quedas do Iguaçu; seria preciso viver longamente aqui, nesse mato alto, entre cobras, veados, antas e onças, em volta desse estrondo – e vir, nas manhãs e nas noites, vagar entre as nuvens e a espuma, a um canto do abismo fundo, com terror e com unção.

BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 11. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 141.

Depois da leitura da crônica “Quedas do Iguaçu”, de Rubem Braga, verifique se você compreendeu a mensagem transmitida pelo eu do cronista, aquele que fala com o leitor, resolvendo as questões propostas.

A crônica de Rubem Braga apresenta aos leitores, de forma extremamente detalhista e elaborada, a primeira visão do eu do cronista em relação às Cataratas do Iguaçu, importante ponto turístico do estado do Paraná.

1. Trata-se de um texto narrativo ou descritivo? Por quê?

Trata-se de um texto descritivo, pois de uma forma minuciosa e lírica, o eu do cronista apresenta aquilo que viu no primeiro momento em que teve contato com as Cataratas do Iguaçu.

No primeiro parágrafo, o eu do cronista comenta: “E até onde a vista alcança, num semicírculo imenso, há montes de água estrondando nesse cantochão, árvores tremendo, ilhas dependuradas, insanas, se toucando de arco-íris, nuvens voando para cima, como o espírito das águas trucidadas remontando para o sol, fugindo à torrente estreita e funda onde todas essas cachoeiras juntam absurdamente suas águas esmagadas, ferventes, num atropelo de espumas entre dois muros altíssimos de rocha”.

2. O que é possível deduzir que ele viu com base na descrição feita? Explique.

Possibilidade de resposta: O eu do cronista ficou espantado com tudo o que viu, em função da grandiosidade da paisagem, que misturava água em muita quantidade, estabelecendo uma visão maravilhosa e promovendo um barulho que mais parecia um canto. Cachoeiras tão fortes criando uma nuvem de espuma que tocava o céu, formando um arco-íris no ar. Árvores, muito verde e pequenas ilhas em meio ao turbilhão de água e paredes de pedra. Na realidade, uma paisagem linda de ser apreciada!

O eu do cronista afirma, também: “E na terra em que pisamos junto ao abismo, a cara molhada, os pequenos bichos do mato se movem num perpétuo susto como se nosso movimento fosse uma traição acobertada pelo estrondo dessa catedral caindo absurda para as nuvens de vapor e espuma com toda uma orquestra de órgãos estrondando”.

3. Considerando os animais que se encontravam no local, como é possível definir a reação que eles tiveram ao se deparar com os seres humanos? Comente a sua resposta.

De acordo com o eu do cronista, os pequenos animais da região ficaram assustados com a chegada de pessoas, pois o barulho estrondoso das águas acabava suprimindo o som da aproximação humana, que só foi percebida de súbito, o que ocasionou susto e certo espanto nos bichos.

Releia: “Do lado argentino, uma longa ponte sobre os saltos e um sábio caminho entre a floresta nos leva à intimidade de muitos saltos, num passeio maravilhoso que é um equilíbrio entre o idílico e o trágico [...]”.

4. Qual é o sentido que a expressão “do lado argentino” assume nesse contexto? Assinale a alternativa correta.

(   ) Trata-se da visão das cataratas sob o ponto de vista de um argentino.

(   )Trata-se da região menos bonita e que atrai menos turistas das Quedas do Iguaçu.

(X) Trata-se da região das Cataratas do Iguaçu que pertence à Argentina.

5. O que o eu do cronista quis afirmar ao comentar que “um sábio caminho entre a floresta nos leva à intimidade de muitos saltos”? Justifique a sua resposta.

Nesse excerto, o eu do cronista afirma que havia um caminho seguro no meio da floresta, capaz de levar a muitos lugares, talvez não tão acessíveis se esse caminho não existisse, em que se encontravam alguns saltos, ou seja, esse caminho propiciava descobertas em relação ao local.

6. Com base na descrição minuciosa apresentada na crônica de Rubem Braga, defina: Quais são os elementos que compõem as Quedas do Iguaçu?

De acordo com a descrição feita ao longo da crônica, é possível perceber que, nas Cataratas do Iguaçu, além de muita água, há uma fauna e uma flora muito diversificadas, repletas de espécies e de cores, elementos que determinam uma beleza sem igual ao lugar descrito.

7. Assinale a alternativa que apresenta a definição incorreta de uma expressão utilizada no texto. Caso sinta necessidade, busque a ajuda de um dicionário.

a) “ilhas dependuradas, insanas” – loucas

b) “num perpétuo susto” – infindo

c) “espírito das águas trucidadas” – esmagadas

d) “numa agonia monstruosa” – sofrimento

e)  “com terror e com unção” – tristeza

Alternativa correta (e)

Por fim, depois de passar a crônica toda fazendo a descrição do local, o eu do cronista diz: “Não, não há como descrever as quedas do Iguaçu; seria preciso viver longamente aqui, nesse mato alto, entre cobras, veados, antas e onças, em volta desse estrondo – e vir, nas manhãs e nas noites, vagar entre as nuvens e a espuma, a um canto do abismo fundo, com terror e com unção”.

8. Como se explica essa conclusão a que o eu do cronista chega? Comente.

Mesmo tendo passado a crônica toda descrevendo o local, o eu do cronista chega à conclusão de que não é possível descrever o lugar porque considera que tudo que foi dito não faz jus à beleza e à grandiosidade da paisagem vislumbrada. Dessa forma, sempre faltarão palavras para mostrar, de fato, como é aquele lugar, ou seja, só vendo pessoalmente as Cataratas do Iguaçu é que se terá a verdadeira noção de como é o lugar.



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