As aventuras de Dom Quixote em versos de cordel

[...]
Era um pobre camponês
Que o seguiu a contento:
E Sancho Pança era o nome
Do tão simplório elemento
Promovido a escudeiro,
Escanchado num jumento.

Dom Quixote prometera
Prêmios de grande valor
Se, em uma das batalhas,
Se tornasse o vencedor:
De uma ilha, ele faria
Sancho seu governador!

Sancho partiu, iludido
Com Quixote pelo mundo:
Era um sujeito baixinho
Que tinha um bucho rotundo,
Um espírito ainda bruto
(Da inocência oriundo)...

Então seguiram caminho
Cruzando muitas paragens.
Cada qual mais satisfeito
Observava as imagens
Que a brisa soprava, leve,
Nas mais bucólicas paisagens.

Num campo de trigo, havia
Uns moinhos importantes.
Mas Quixote, ao vê-los, teve
Pensamentos delirantes
E gritou: “Veja, escudeiro!
São mais de trinta gigantes!”.

“Como Cavaleiro Andante
Faço a maior das proezas!
Extermino esses gigantes,
Destruo suas fortalezas
E depois, me aproprio
De todas as suas riquezas!”

Sancho disse: “Nobre amo,
Posso lutar a contento!
Mas não vejo um só gigante
Ou qualquer mau elemento!
Cada gigante não passa
De um moinho de vento...”

Quixote armou-se da lança,
Tomando-lhe a dianteira,
Já pronto para atacar
Partiu, com toda a carreira.
Olhando Sancho, indeciso,
Pensou por esta maneira:

“Sancho está enfeitiçado!
Eu devo lutar sozinho!
Pra ele, cada gigante
É apenas um moinho...
Eu creio que foi magia
De um inimigo mesquinho!”.

Empunhando firme a lança,
Cavalgava o Rocinante:
Esporeando o cavalo,
Que já estava ofegante,
Ataca ali um moinho
Como se fosse um gigante.

Um vento, soprando forte
Move as velas, e então
Quixote, com a lança presa,
Vê-se em má situação:
O moinho o arremessa
Com toda a força no chão...

Dom Quixote se levanta
E ataca insistentemente:
Tal legítimo Cavaleiro
Comporta-se bravamente –
Mas o moinho o derriba
No chão duro, novamente...

Já Sancho parte em socorro
Quando o amo, enfurecido,
Fala, mordendo os bigodes:
“Se um feiticeiro metido
Não os tornasse em moinhos,
Eu os teria vencido!”.

VIANA, Antônio Klévisson. As aventuras de Dom Quixote em versos de cordel. 2. ed. Barueri: Amarilys, 2011. p. 29-34.


Interagindo com o texto

1. Após ler o poema, você identificou se já conhecia a história nele narrada? Se já conhecia, comente onde e como a conheceu.

Resposta pessoal. É possível que alguns alunos conheçam essa história, visto que se tratar de uma das mais conhecidas aventuras vividas por Dom Quixote; no entanto, podem tê-la conhecido por meio do romance que inspirou o cordel.

2. O poema lido é um trecho de um poema de cordel. Você já leu outros poemas de cordel? Em caso afirmativo, de que assuntos eles tratavam?

Resposta pessoal.

3. O gênero poema de cordel narra histórias em versos rimados. Os cordéis têm sua origem em narrativas orais da Idade Média e, com o tempo, passaram a ser impressos em folhetos.

a) Quem são os personagens do poema de cordel que você acabou de ler?

Dom Quixote e Sancho Pança.

b) É possível identificar quando e onde os fatos narrados aconteceram? Explique.

Nesse poema, o tempo não aparece definido com precisão. Os fatos ocorrem em bucólicas paisagens e em um campo de trigo.

c) Essa história é narrada em 1ª- ou 3ª- pessoa? O que isso indica em relação ao narrador?

É narrada em 3ª- pessoa, o que indica que o narrador não participa dos fatos, apenas os narra.

4. Leia algumas informações sobre o personagem Dom Quixote.

a) Quixote esforça-se para mostrar que é um autêntico cavaleiro. No trecho lido, em quais de suas falas ele busca confirmar esse comportamento?

Quando ele diz “Como Cavaleiro Andante / Faço a maior das proezas!”, “Eu devo lutar sozinho”, e em “Se um feiticeiro metido / Não os tornasse em moinhos / Eu os teria vencido!”.

b) No trecho lido do poema, qual das “perigosas batalhas” imaginadas por Dom Quixote é narrada?

O ataque aos moinhos de vento, que ele imaginava serem perigosos gigantes.

5. Qual foi a atitude de Dom Quixote após Sancho Pança lhe mostrar a visão que tinha dos moinhos?

Quixote não desistiu da sua luta, armou-se e decidiu lutar sozinho, pois achava que Sancho estava enfeitiçado e, por isso, não conseguia enxergar os gigantes.

6. Mesmo após ter sido lançado a distância, Dom Quixote não admitiu que seu escudeiro tinha razão em relação aos moinhos. Por que ele age dessa maneira?

Ele não muda de ideia porque tinha a certeza de que tinha atacado gigantes e que um feiticeiro os havia transformado em moinhos.

7. O poema é iniciado com a apresentação de Sancho Pança, que passou a ser escudeiro de Dom Quixote. Que promessas o cavaleiro fez a Sancho para que ele se tornasse seu escudeiro?

Dom Quixote lhe prometeu prêmios de grande valor, como ser governador de uma ilha, caso ele vencesse uma das batalhas.

8. Leia as seguintes informações sobre a função dos escudeiros. 

Quem eram os escudeiros?

Na Idade Média, um período da história da Europa, havia os cavaleiros medievais, homens considerados heroicos e perfeitos, que passavam por situações perigosas para defender o bem e vencer o mal. Eram homens corajosos e leais que serviam aos senhores feudais.

Cada cavaleiro tinha um escudeiro, que o acompanhava em torneios e batalhas. O escudeiro tinha a missão de ajudar o cavaleiro em tudo o que precisasse, inclusive, realizando deveres, como polir as armaduras e armas. Nas viagens, era o escudeiro quem levava cavalos e armas substitutos, tratava dos ferimentos do cavaleiro ou afastava-o de perigos caso fosse ferido. Em muitas situações, o escudeiro ia à batalha com seu cavaleiro e lutava a seu lado.

a) De acordo com essas informações, quais das características a seguir um escudeiro deveria ter?

(X) disposição

(   ) medo

(X) força

(X) agilidade

(X) destemor

b) Você leu que, em muitas situações, o escudeiro ia à batalha com seu cavaleiro e lutava a seu lado. Isso acontece na história lida? Por quê?

Não acontece, porque Sancho Pança percebe que Dom Quixote está delirando ao dizer que vê gigantes, quando, na realidade, são moinhos de vento.

c) Em que verso do poema vemos Sancho exercendo sua função de escudeiro? Transcreva-o a seguir.

No verso “Já Sancho parte em socorro”.

9. Como o próprio título diz, “As aventuras de Dom Quixote em versos de cordel” é um texto escrito em versos, ou seja, um poema. Os poemas em cordel são organizados em estrofes. Por quantos versos é composta cada estrofe do poema?

Cada estrofe é composta de seis versos.

10. Releia a primeira estrofe do poema.

Era um pobre camponês
Que o seguiu a contento:
E Sancho Pança era o nome
Do tão simplório elemento
Promovido a escudeiro,
Escanchado num jumento.

a) O cordel é um tipo de poesia popular de tradição oral. Nesses poemas, usam-se rimas simples para facilitar a memorização. Sublinhe nessa estrofe as palavras que rimam entre si.

b) Em quais versos elas ocorrem?

No segundo, no quarto e no sexto versos.

c) Releia as demais estrofes do poema e verifique se as rimas acontecem também nos mesmos versos.

Resposta esperada: sim, a rima se repete no segundo, no quarto e no sexto versos nas demais estrofes.




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