Leia, atentamente, este texto e resolva as questões propostas.

Depois de um bom jantar: feijão com carne-seca, orelha de porco e couve com angu, arroz mole engordurado, carne de vento assada no espeto, torresmo enxuto de toicinho da barriga, viradinho de milho verde e um prato de caldo de couve, jantar encerrado por um prato fundo de canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé saboreou o café forte e se estendeu na rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa de travesseiro, o indefectível cigarro de palha entre as pontas do indicador e do polegar, envernizados pela fumaça, de unhas encanoadas e longas, ficou-se de pança para o ar, modorrento, a olhar para as ripas do telhado.

Quem come e não deita, a comida não aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se a cochilar. A sua modorra durou pouco; Tia Policena, ao passar pela sala, bradou assombrada: — Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não! Num presta... Dá pisadêra e póde morrê de ataque de cabeça! Despois do armoço num far-má... mais despois da janta?!

PIRES, Cornélio. Conversas ao pé do fogo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.

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1. O texto de Cornélio Pires foi publicado, originalmente, no ano de 1921. Nele, o narrador apresenta certos costumes da época em que o texto foi escrito.

a) Que elementos do texto comprovam essa afirmação?

No texto em questão, o narrador descreve, de forma minuciosa, os pratos que eram servidos à época. Além disso, comenta sobre algumas crendices praticadas naquele momento: era preciso deitar depois das refeições para aproveitá-la melhor. No entanto, isso só podia ser feito depois do almoço, pois depois do jantar tal ação poderia causar até a morte.

b) É possível afirmar que, a respeito dessas colocações, o texto apresenta algum posicionamento crítico? Explique.

Em se tratando de posicionamento crítico, há três situações distintas: o narrador, ao descrever o jantar e, portanto, alguns costumes daquela época, comenta que é “um bom jantar”, que o arroz é “mole engordurado”, o “torresmo enxuto”, emitindo, assim, certo juízo de valor. E, no que compete ao fato de dormir depois das refeições, tanto Nhô Tomé quanto Tia Policena expõem suas opiniões: “Quem come e não deita, a comida não aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se a cochilar”; portanto, era algo positivo. “Vai drumi agora? Não! Num presta...”, um posicionamento negativo a respeito do ato realizado.

2. Releia este trecho:

—Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não! Num presta... Dá pisadêra e póde morrê de ataque de cabeça! Despois do armoço num far-má... mais despois da janta?!

Considerando as palavras destacadas, é possível afirmar que o autor do texto desvaloriza a norma-padrão da língua? Por quê?

As palavras em destaque não apontam para uma questão de desrespeito à norma-padrão. Trata-se, no contexto, de uma transcrição dos usos próprios da língua dos personagens daquela região, ou seja, um regionalismo, que pode ser considerado uma variação linguística.

3. Releia o primeiro período do texto e resolva:

a) Que regra ortográfica justifica a escrita do vocábulo “enxuto”? Explique:

Depois de sílabas que se iniciam com en-, usa-se o x, com exceção das palavras iniciadas por ch, que recebem o prefixo -en. Por exemplo: encharcar, de charco.

b) A palavra “canjica” está grafada corretamente? Comente.

A palavra canjica está grafada corretamente. Trata-se de um vocábulo de origem ameríndia, portanto deve ser escrito com j.

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