Leia, a seguir, uma crônica de Clarice Lispector para resolver as questões propostas.

Forma e conteúdo 

Fala-se da dificuldade entre a forma e o conteúdo, em matéria de escrever; até se diz: o conteúdo é bom, mas a forma não, etc. Mas, por Deus, o problema é que não há de um lado um conteúdo, e de outro, a forma. Assim seria fácil: seria como relatar através de uma forma o que já existisse livre, o conteúdo. Mas a luta entre a forma e o conteúdo está no próprio pensamento: o conteúdo luta para se formar. Para falar a verdade, não se pode pensar num conteúdo sem sua forma. Só a intuição toca na verdade sem precisar nem de conteúdo nem de forma. A intuição é a funda reflexão inconsciente que prescinde de forma enquanto ela própria, antes de subir à tona, se trabalha. Parece-me que a forma já aparece quando o ser todo está com conteúdo maduro, já que se quer dividir o pensar ou escrever em duas fases. A dificuldade da forma está no próprio constituir-se do conteúdo, no próprio pensar ou sentir, que não saberiam existir sem sua forma adequada e às vezes única.

LISPECTOR, Clarice. Crônicas para jovens: de escrita e vida. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010, p. 87-88.

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1. Quando o eu do cronista comenta a respeito da dificuldade entre a forma e o conteúdo, a que elementos ele está se referindo, considerando o contexto da escrita?

O eu do cronista refere-se a uma questão muito debatida no âmbito da escrita, que diz respeito ao que deve ser valorizado nesse momento: o conteúdo, ou seja, o assunto a ser abordado, os temas a serem debatidos, ou a forma, isto é, a estruturação composicional de cada gênero discursivo, de cada texto produzido.

2. Qual é a opinião do eu do cronista em relação a esse questionamento? Justifique sua resposta com um trecho da crônica.

Segundo o eu do cronista, esses dois aspectos, forma e conteúdo, não devem ser considerados separadamente ou um em detrimento do outro. Para ele, ambos são elementos que se completam e que se articulam com o intuito de dar ao texto uma significação: “Para falar a verdade, não se pode pensar num conteúdo sem sua forma”.

3. Explique o que o eu do cronista quis afirmar ao proferir: “A dificuldade da forma está no próprio constituir-se do conteúdo, no próprio pensar ou sentir, que não saberiam existir sem sua forma adequada e às vezes única”.

Para o eu do cronista, forma e conteúdo se completam e promovem a significação dentro do contexto de produção dos discursos. No trecho citado, há a alegação de que a dificuldade de um elemento está no outro e vice-versa, isso porque, somente quando ambos estiverem maduros e conectados, é que haverá a consolidação do texto e, consequentemente, dos sentidos que ele evidencia.

4. Se considerarmos os estudos gramaticais, diante da perspectiva atribuída à escrita por Clarice Lispector, como essa abordagem deve acontecer?

Segundo as ideias proferidas na crônica lida, os estudos gramaticais precisam ser fundamentados numa perspectiva de significação, ou seja, utilizando o estudo das unidades para se efetivar a significação do todo.

5. No último período do texto, o eu do cronista comenta que o conteúdo – correspondendo ao pensar e ao sentir – não saberia “existir sem sua forma adequada e às vezes única”. Nesse trecho, qual a classificação do termo sublinhado? De que forma esse termo contribui para a significação desse período?

A expressão sublinhada corresponde a uma locução adverbial de tempo. No contexto, essa circunstância confere a possibilidade de se pensar que a forma, em algumas ocasiões, pode ser uma só, atrelada a regras e a certas condições. No entanto, em certos casos, pode oferecer mais de uma possibilidade de construção do conteúdo.


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