1. (EsPCEx‑Aman‑RJ) Assinale a única alternativa que contém a figura de linguagem presente no trecho sublinhado:

As armas e os barões assinalados,

Que da ocidental praia lusitana,

Por mares nunca dantes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana,

a) metonímia

b) eufemismo

c) ironia

d) anacoluto

e) polissíndeto


2. (Insper‑SP)

Na semana passada, um telejornal exibiu uma matéria sobre a “morte” das lâmpadas incandescentes. O (ótimo) texto do repórter começava assim: “A velha e boa lâmpada incandescente, mais velha do que boa...”.

Hábil com as palavras, o repórter desfez a igualdade que a conjunção aditiva “e” estabelece entre “velha” e “boa” e instituiu entre esses dois adjetivos uma relação de comparação de superioridade, que não se dá da forma costumeira, isto é, entre dois elementos (“A rua X é mais velha do que a Y”, por exemplo), mas entre duas qualidades (“velha” e “boa”) de um mesmo elemento (a lâmpada incandescente).

Ao dizer “mais velha do que boa”, o repórter quis dizer que a tal lâmpada já não é tão boa assim. Agora suponhamos que a relação entre “velha” e “boa” se invertesse. Como diria o repórter: “A velha e boa lâmpada incandescente, mais boa do que velha...” ou “A velha lâmpada incandescente, melhor do que velha...”?

Quem gosta de seguir os burros “corretores” ortográficos dos computadores pode se dar mal. O meu “corretor”, por exemplo, condena a forma “mais boa do que velha” (o “mestre” grifa o par “mais boa”). Quando escrevo “melhor do que boa”, o iluminado me deixa em paz. E por que ele age assim? Por que, para ele, não existe “mais bom”, “mais boa”; só existe “melhor”.

CIPRO NETO, Pasquale, Folha de S.Paulo, 11 jul. 2013.

As aspas empregadas em “o mestre”, na oração “‘o mestre’ grifa o par ‘mais boa’” (último parágrafo), revelam

a) ironia.

b) ênfase.

c) reverência.

d) apropriação de discurso alheio.

e) inserção de termo de outro nível linguístico.

3. (Unesp‑SP) Para responder à questão, leia o trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943.

O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século, tinha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem da mesma forma – e chegou a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredicto.

Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta centímetros, exatos, apesar de barrocas e degraus. A espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam.

Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e nenhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso.

Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou calor, almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.

Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas, e condenou o crime, in- feliz consequência da paixão.

Se atentássemos nas palavras emitidas por via oral, poderíamos afirmar que o Dr. França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer desvio.

Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, títulos, artigos e parágrafos. E o que se distanciava desses parágrafos, artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.

RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas, 1976.


O cronista recorre à personificação no seguinte trecho:

a) “Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernação negra semelhante à do proprietário, empertigavam‑se – e nenhum ousava deitar‑se, inclinar‑se, quebrar o alinhamento rigoroso.” (3o parágrafo)

b) “A espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam.” (2o parágrafo)

c) “Ao afastar‑se, mexia as pernas matematicamente, os passos mediam setenta centímetros, exatos, apesar de barrocas e degraus.” (2o parágrafo)

d) “E o que se distanciava desses parágrafos, artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.” (7o parágrafo)

e) “Vestia‑se ordinariamente de preto, exigia que todos na justiça procedessem da mesma forma – e chegou a mandar retirar‑se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar‑lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredicto.” (1o parágrafo)

4. (Unicamp‑SP)

TEXTO 1


TEXTO 2

Para que as memórias e tradições permaneçam vivas, o Museu da Pessoa, a Rádio Yandê e Ailton Krenak vão realizar uma formação virtual em memória e mídias para que jovens das comunidades originárias registrem as histórias de vida de seus anciãos e anciãs.

O ditado “Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima” é válido para os povos indígenas, portanto nosso lema é “Cada ancião que se preserva é uma biblioteca que se salva”. Na tradição dos povos indígenas, todo conhecimento de plantas, de cura, de mitos e narrativas é produzido de maneira oral. “A gente não sabe até quando que vão ter esse conhecimento completo. A gente vai morrendo e vai se apagando tudo. A gente não é igual vocês, que fica tudo guardado em algum lugar [...]” (Awapataku Waura, ancião e pajé do povo Waura).

Adaptado de “Projeto Vidas Indígenas”, vídeo institucional do Museu da Pessoa, sobre registro de narrativas orais indígenas. Disponível em: https://benfeitoria.com/ vidas indigenas. Acesso em: 4 abr. 2021.

No texto 2 (Projeto Vidas Indígenas), é utilizada uma metáfora que relaciona “ancião” e “biblioteca”. As citações a seguir tratam da importância de anciãos e anciãs indígenas para a transmissão do conhecimento. Assinale aquela que também faz uso de uma metáfora.

a) “Perder um ancião é o mesmo que fechar um livro. Ou mesmo queimar um livro” (Comissão Pró‑Índio, Twitter, via @g1).

b) “Morte de anciãos indígenas na pandemia pode fazer línguas inteiras desaparecerem” (manchete da BBC Brasil News).

c) “A morte de uma anciã ou um ancião é tratada como se uma biblioteca fosse perdida” (site “Racismo Ambiental”).

d) “Nikaiti Mekranotire é mais uma vítima do covid‑19. Perdemos uma enciclopédia” (Mayalú Txucarramãe, Twitter).

5. (UEFS‑BA)

A sinestesia consiste em aproximar, na mesma expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos.

CUNHA, Hélio de Seixas Guimarães. Figuras de linguagem, 1988.

Verifica‑se a ocorrência de sinestesia no seguinte trecho:

a) “O mistério ia desfazer‑se e o malefício ser cortado.”

b) “aquela cruciante vida de cinco anos havia de lhe ficar na memória como passageiro pesadelo.”

c) “correu depressa para a casa de Madame Dadá.”

d) “Era o sol muito claro e doce, um sol de junho;”

e) “eram as fisionomias risonhas dos transeuntes;”

6. (Famema‑SP)

[...] no tempo em que se passavam os fatos que vamos narrando nada mais havia comum do que ter cada casa um, dois e às vezes mais agregados.

Em certas casas os agregados eram muito úteis, por- que a família tirava grande proveito de seus serviços, e já tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes porém, e estas eram maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tornava-se quase um rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.

Em qual dos dois casos estava ou viria estar em breve o nosso amigo Leonardo? O leitor que decida pelo que se vai passar.

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias, 1994.

A hipérbole é uma figura de linguagem que expressa ideia de exagero; a metáfora, por sua vez, expressa ideia de semelhança. As passagens do segundo parágrafo do texto que exemplificam essas figuras são, respectivamente:

a) “Em certas casas os agregados eram muito úteis”; “chegava mesmo a dar cabo dela”.

b) “o esmagavam com o peso de mil exigências”; “que lhe participava da seiva sem ajudá‑la a dar frutos”.

c) “se lhe batiam a cada passo com os favores na cara”; “quando contamos a história do finado padrinho de Leonardo”.

d) “saltavam‑lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho”; “intervinha enfim nos mais particulares negócios”.

e) “se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento”; “que se prendia à árvore familiar”.

Texto para as questões 7 a 9.

O sobrevivente

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.

Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.

O último trovador morreu em 1914.

Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.


Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.

Se quer fumar um charuto aperte um botão.

Paletós abotoam-se por eletricidade.

Amor se faz pelo sem-fio.

Não precisa estômago para digestão.


Um sábio declarou a O Jornal que ainda

falta muito para atingirmos um nível razoável

de cultura. Mas até lá, felizmente,

estarei morto.


Os homens não melhoraram

e matam-se como percevejos.

Os percevejos heroicos renascem.

Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.

E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.


(Desconfio que escrevi um poema.)


ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.

7. (Uerj) Os dois primeiros versos enfatizam uma ideia que será desconstruída pela leitura integral do poema, caracterizando uma ironia, expressa também no título.

Transcreva o verso do texto que, em comparação com os dois primeiros, revela essa ironia. Em seguida, estabeleça a relação entre o verso transcrito e o título.

“(Desconfio que escrevi um poema.)”

O verso indica que, apesar de todas as circunstâncias criticadas pelo poeta, a possibilidade de escrever um poema sobrevive – conforme anunciado pelo título –, desfazendo a ideia de impossibilidade reafirmada no início.

8. (Uerj) Em um dos versos do poema, observa‑se uma aparente contradição entre dois termos. Identifique esse verso e explique por que, de acordo com a leitura do texto, a associação entre os termos não é contraditória.

“Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.”

No texto, o poeta critica aspectos da vida moderna que tornariam o mundo “inabitável”, mas essa avaliação subjetiva não nega a evidência quantitativa de um mundo “cada vez mais habitado”.

9. (Unesp‑SP) Explicite a antítese contida em “Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.” (2a estrofe).

No trecho “Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.”, a aproximação de palavras com sentidos opostos configura uma antítese, já que não existe coerência na fabricação de máquinas muito complicadas para satisfazer necessidades simples.


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