Leia um artigo de opinião, veiculado no site “Observatório da Imprensa”, para explorar um pouco mais as características desse gênero textual tão importante para o contato com os gêneros próprios da argumentação.

O brasileiro gosta de ler, mas falta estímulo

Aqueles que são leitores verdadeiros sabem exatamente a riqueza que podemos encontrar em incontáveis páginas de livros. Desde muito cedo, tornei-me leitor convicto. Daqueles que viajam pelo universo literário.

Por muitos anos, mantive meus livros como objeto de adoração, expostos numa glamorosa estante em minha biblioteca particular.

Confesso: tinha ciúmes da minha vasta coleção, vez ou outra empoeirada, protegida pelo meu ameaçador “não tire do lugar”. Livros conservados como tesouro intocável.

Num determinado momento, comecei a refletir sobre o motivo do desinteresse das pessoas pela leitura, em especial os jovens. Foi, então, que libertei meu tesouro literário da prisão de minha estante. Passei a emprestar meus livros a um, a outro, fiz marketing das obras que li e assim fui disseminando a cultura do prazer da leitura.

Hoje, alegra-me quando morre o proprietário de uma vasta biblioteca particular e a viúva detesta livros, pois eles serão distribuídos de qualquer jeito e sairão a circular com grande chance de cumprir o papel para o qual nasceram: serem lidos. Quantas vezes leremos um livro que está em nossa estante? Por que deixá-los ali empoeirados, tristonhos, lidos apenas uma vez? Temos um instinto de posse para tudo. Até para os livros.

Grande parceria

Sempre fui inconformado com o estigma de que o brasileiro não gosta de ler. Acho pura invencionice. Não se pode opinar sobre o gosto do que nunca se experimentou. Imaginava que era preciso criar facilidades e buscar estímulos para a primeira leitura. Longe, bem longe da obrigatoriedade e controles burocráticos para aquele que quer ler. Entristece-me quando, nas minhas visitas às escolas, vejo bibliotecas ou salas de leitura trancadas a sete chaves. Quantos leitores perdidos pelo excesso de zelo.

Assim, em 1998 nasceu o meu projeto Encontro com o Escritor. Sempre tive a certeza de que a leitura não é só na escola, é para todos os lugares. Assim, em 2004, nasceu o projeto Leitura no Parque, que visa abarcar outro tipo de público.

Ao longo desses anos de aplicação de projetos de leitura, tenho constatado que é grande equívoco o pensamento de que “o brasileiro não gosta de ler”.

Falta, isso sim, criar facilidades e formas de incentivo.

Trabalho que tenho feito sempre nas minhas palestras, alertando professores para a grande responsabilidade que lhes cabe, principalmente nos dias de hoje, em que as mães ausentam-se para o trabalho e não têm o tempo tão necessário para ler histórias para os filhos e estimular a imaginação e o prazer da literatura.

Num tempo de alunos arredios, cercados pelo bombardeio de inovações visuais e lúdicas, é preciso escolher com carinho a obra que se coloca pela primeira vez nas mãos de um futuro leitor. Corre-se sempre o risco de criar ojeriza e afastá-lo definitivamente do mundo da leitura. Portanto, muito cuidado!!!

Vários alunos que se recusavam a ler e que leram a primeira crônica de um livro meu manifestaram que leram, para surpresa deles próprios, até o final e começaram a ler outras obras a partir dessa experiência.

A grande parceria com professores, instituições e a adesão de patrocinadores e incentivadores pessoa física me levam a acreditar que é possível realizar o sonho de fazer do Brasil um país de leitores.

SOUZA, Laé de. O brasileiro gosta de ler, mas falta estímulo. Disponível em: <https://bit.ly/2OQDtUq>. Acesso em: 6 jul. 2018.

1. O articulista Laé de Souza, ao longo do artigo, expõe um ponto de vista a respeito do tema abordado. Qual é o tema em questão?

O tema abordado por Laé de Souza diz respeito à prática da leitura no Brasil.

2. Qual é o ponto de vista defendido pelo autor? Comente.

Para Laé de Souza, é um equívoco afirmar que o brasileiro não gosta de ler. O que falta é o estímulo adequado para que essa prática torne-se mais constante.

3. No início do texto, o articulista confessa: “Por muitos anos, mantive meus livros como objeto de adoração, expostos numa glamorosa estante em minha biblioteca particular.”.

a) Por que ele agia dessa maneira?

Ele agia dessa maneira por ter ciúmes da coleção de livros que ostentava em sua estante.

b) O que o fez mudar de ideia com relação aos livros?

Ele começou a refletir sobre o motivo do desinteresse das pessoas pela leitura, em especial dos jovens.

c) O que é possível deduzir com base na mudança de atitude de Laé de Souza?

A mudança de atitude do autor pode nos levar a concluir que, para ele, o desinteresse pela leitura pode estar relacionado à falta de livros interessantes nas mãos das pessoas e, ainda, pela falta de estímulo. Ele percebeu isso quando passou a emprestar os livros que tinha, fazendo propaganda e disseminando a cultura do prazer.

4. Com o intuito de evidenciar a necessidade de reflexão acerca do tema, o articulista questiona e, depois, conclui: “Quantas vezes leremos um livro que está em nossa estante? Por que deixá-los ali empoeirados, tristonhos, lidos apenas uma vez? Temos um instinto de posse para tudo. Até para os livros.”.

Refletindo a respeito da declaração do autor, explique o que significa a expressão “instinto de posse para tudo”.

Em consonância com o desenvolvimento da reflexão realizada pelo articulista, essa expressão representa certo comportamento que o ser humano tem com relação a seus bens, às pessoas que o rodeia, aos sentimentos, à disposição em doar, em trocar, em emprestar, enfim, à capacidade (e necessidade) de o homem querer garantir que é dono de certas coisas e, às vezes, até das pessoas.

5. Na segunda parte do artigo de opinião, o escritor confidencia que sempre fora

“inconformado com o estigma de que o brasileiro não gosta de ler”. Para ele, essa constatação não passa de uma “invencionice”.

O que esse depoimento explicita sobre o ponto de vista do autor a respeito do gosto dos brasileiros pela leitura?

Por meio dessa afirmação, Laé de Souza reforça o ponto de vista de que sempre se sentiu inconformado com relação à opinião geral de que o brasileiro não gosta de ler. Segundo ele, esse é um estigma que não deve ser considerado uma verdade absoluta, pois “Não se pode opinar sobre o gosto do que nunca se experimentou”. Portanto, o necessário, mesmo, é buscar estímulo para a primeira leitura. Depois disso, certamente, virão o hábito e o prazer.

6. Releia este parágrafo do texto.

Num tempo de alunos arredios, cercados pelo bombardeio de inovações visuais e lúdicas, é preciso escolher com carinho a obra que se coloca pela primeira vez nas mãos de um futuro leitor. Corre-se sempre o risco de criar ojeriza e afastá-lo definitivamente do mundo da leitura. Portanto, muito cuidado!!!

a) Que pessoa do discurso foi empregada no parágrafo lido?

No parágrafo lido, foi usada a 3ª- pessoa.

b) No entanto, ao longo do texto, é possível perceber que há o predomínio do uso da 1ª- pessoa do singular. Explique o efeito dessa escolha de foco narrativo no gênero textual artigo de opinião.

No artigo de opinião, o uso da 3ª- pessoa imprime um tom impessoal e distanciado. Quando há mudança para a 1ª- pessoa do plural, é como se o articulista passasse a falar em nome de uma parcela de pessoas das quais ele também faz parte. Portanto, a argumentação passa a ser mais pessoal. Por fim, quando há intenção de se pronunciar de modo bem pessoal, a opção é o uso da 1ª- pessoa do singular, deixando claro que é, de fato, um ponto de vista próprio, particular.

7. Como Laé de Souza conclui as conjecturas que faz nesse artigo de opinião?

O escritor e articulista Laé de Souza conclui as colocações a respeito do tema proposto ao reforçar a ideia inicial de que o estímulo certo pode influenciar as pessoas ao gosto pela leitura e ao afirmar que uma “grande parceria com professores, instituições e a adesão de patrocinadores e incentivadores pessoa física” pode ajudar a tornar realidade o sonho de fazer do Brasil um país de leitores.


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