O manifesto, assim como a declaração, serve para popularizar uma informação. No entanto, é muito usado para expressar um posicionamento assumido, ou seja, funciona como uma possibilidade de exercício da cidadania, visto que proporciona a apresentação de pontos de vista.

Dessa forma, uma característica importante de um manifesto é a tentativa de buscar convencer os leitores em relação às ideias apresentadas, procurando incentivá-los a mobilizar-se em ações coletivas em defesa de uma causa. Portanto, além de informações claras, é preciso que o manifesto seja convincente e se articule em torno de uma boa argumentação.

Veja que interessante o manifesto a seguir, escrito em defesa do direito das crianças de brincar e de fazer barulho.

Manifesto em defesa do barulho das crianças

4 de dezembro de 2012

O Grupo de Pesquisa Identidade e Território (GPIT), ligado à Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vem por meio deste manifestar a preocupação de seus pesquisadores no campo do Planejamento Urbano e Regional com a recente decisão do desembargador Carlos Marchionatti, motivada por ação de uma escritora, que alegou prejuízo profissional de atividades realizadas em sua residência em função do ruído produzido por crianças de 18 meses a seis anos de idade, no pátio de uma escola vizinha, localizada no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A decisão, vencida em primeiro grau e confirmada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), coloca algumas questões importantes e urgentes sobre as quais a sociedade brasileira precisa refletir.



Nos estudos urbanos ainda carecemos de maior volume de investigações a respeito das relações entre sons e cidade, no entanto o tema está presente em trabalhos acadêmicos em todo o mundo, inclusive os realizados e debatidos no interior do GPIT. Não temos dúvidas sobre a importância dos sons como delimitadores de territorializações na experiência espacial, especialmente no espaço urbano. Sirenes, badalar de sinos, vozerio das multidões ou saudosos sons dos vendedores de jornais e afiadores de faca não apenas situam um tempo- espaço como também acabam por expressar ou mesmo regular a convivência. Locus da modernidade, o urbano é o lugar de encontro das diferenças e de convívio com imagens sonoras, as mais diversas. Viver em cidade é acolher a diversidade e experimentar a diferença. Escolas são importantes equipamentos urbanos que articulam a vida dos bairros, orientando inclusive a escolha da moradia por famílias que desejam viver em proximidade com esses espaços. Do ponto de vista da legislação urbana, inclusive não há impedimento de atividades escolares no Moinhos de Vento e, por princípio, escolas devem estar situadas em áreas de alta densidade.

Entendemos que a decisão da Justiça do Rio Grande do Sul pode estimular a intolerância, ao invés de promover soluções apaziguadoras, como a adoção de tecnologias de conforto acústico e uma série de outros recursos e medidas que minimizem a propagação sonora tanto na escola quanto na residência. A mediação de conflitos neste campo não pode mais se dar apenas baseando-se na medição física do fenômeno acústico, dada a importância social de muitas das atividades que se configuram como fontes emissoras. Estudos apontam que o tráfego automotor, por exemplo, é responsável pela maior parte do que é considerado poluição sonora em nossas cidades hoje, levando inclusive a transtornos psíquicos, mas não se tem apontado para a proibição da circulação de automóveis como solução desse problema. No caso dos espaços reservados à vivência das crianças em nossas cidades, o que propomos aqui não é que se deixe de observar os direitos que assistem o cidadão, mas que possamos pensar e colocar em prática alternativas que não se traduzam no distanciamento – ou silenciamento – de grupos ou sujeitos, pois é exatamente o relacionamento entre eles que fortalece a civilidade.

GRUPO de Pesquisa Identidade e Território UFRGS. Disponível em: <www.ufrgs.br/gpit/manifesto-em-defesa-do-barulho-das-criancas/>. Acesso em: 3 jan. 2018.

1. O primeiro parágrafo do manifesto lido tem a função de anunciar os manifestantes e o motivo da elaboração do texto em questão. Considerando essa informação, responda às questões.

a) Quem são os manifestantes?

Os manifestantes são o Grupo de Pesquisa Identidade e Território (GPIT), ligado à Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

b) Qual foi o motivo que levou o referido grupo a escrever tal manifesto?

O motivo foi a recente decisão do desembargador Carlos Marchionatti, motivada por ação de uma escritora, que alegou prejuízo profissional de atividades realizadas em sua residência em função do ruído produzido por crianças de 18 meses a 6 anos de idade, no pátio de uma escola vizinha, localizada no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, que decidiu “silenciar” ou “minimizar” os ruídos promovidos pelas crianças.

2. Com a colocação “A decisão, vencida em primeiro grau e confirmada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), coloca algumas questões importantes e urgentes sobre as quais a sociedade brasileira precisa refletir”, alguns argumentos são levantados em “defesa do barulho das crianças”.

Cite os argumentos apresentados pelo Grupo de Pesquisa Identidade e Território (GPIT) no segundo parágrafo.

Segundo o grupo, os sons são importantes como delimitadores de territorializações na experiência espacial, especialmente no espaço urbano: “sirenes, badalar de sinos, vozerio das multidões ou saudosos sons dos vendedores de jornais e afiadores de faca não apenas situam um tempo-espaço como também acabam por expressar ou mesmo regular a convivência”. Além disso, “o urbano é o lugar de encontro das diferenças e de convívio com imagens sonoras, as mais diversas. Viver em cidade é acolher a diversidade e experimentar a diferença.” E “Escolas são importantes equipamentos urbanos que articulam a vida dos bairros, orientando inclusive a escolha da moradia por famílias que desejam viver em proximidade com esses espaços”.

3. No último parágrafo, o grupo afirma que “[...] a decisão da Justiça do Rio Grande do Sul pode estimular a intolerância, ao invés de promover soluções apaziguadoras [...]”.

Qual é a justificativa apresentada para se chegar a essa conclusão? Comente.

Conforme explicita o grupo, a “mediação de conflitos neste campo não pode mais se dar apenas baseando-se na medição física do fenômeno acústico, dada a importância social de muitas das atividades que se configuram como fontes emissoras [...]”. No caso dos espaços reservados à vivência das crianças nas cidades do Rio Grande do Sul, o que eles propõem “não é que se deixe de observar os direitos que assistem o cidadão, mas que possamos pensar e colocar em prática alternativas que não se traduzam no distanciamento – ou silenciamento – de grupos ou sujeitos, pois é exatamente o relacionamento entre eles que fortalece a civilidade.,” ou seja, mais importante que “silenciar” as crianças e/ou qualquer outro grupo etário, é estabelecer uma convivência sadia e mais humana.

4. Considerando algumas características pontuais do gênero manifesto, responda às questões a seguir.

a) Há uma tentativa de convencimento? Explique sua resposta.

Sim, há uma tentativa de convencimento, pois o grupo GPIT apresenta argumentos favoráveis à manutenção do direito das crianças de fazer barulho.

b) Que tipo de linguagem foi utilizada: formal ou informal? Justifique sua resposta?

A linguagem utilizada foi mais formal: há emprego de termos próprios da área e uma construção linguística mais cuidada e precisa.

c) Qual foi a ordem estabelecida na elaboração do manifesto?

Primeiro, houve a apresentação do problema; depois, os argumentos foram expostos. Por fim, houve um certo apelo para a adesão dos leitores.


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