Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo ano novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido ou talvez sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir a ser,

novo até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido

pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar

que por decreto da esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o ano novo

cochila e espera desde sempre.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Receita de ano novo. Disponível em: <www.releituras.com/drummond_dezembro.asp>. Acesso em: 2 nov. 2017.


1. Quantos versos há no poema “Receita de ano novo”?

No poema “Receita de ano novo” há 35 versos.

2. A quem o eu lírico (aquele que fala no poema) se dirige ao estabelecer uma receita para o ano novo?

O eu lírico dirige-se diretamente a todos os leitores do poema “Receita de ano novo”, isto é, a todos os que, de alguma forma, aproximarem-se do texto em questão.

3. Por que é possível afirmar que esse poema é um “poema-receita”? Justifique sua resposta.

O poema de Drummond pode ser considerado um “poema-receita”, pois, como o próprio título já afirma, trata-se da apresentação de algumas instruções, algumas dicas, do que cada pessoa deve fazer para que o ano que se inicia seja, de fato, um bom ano.

4. O eu lírico do poema afirma, no decorrer dos versos, que o ano novo pode se configurar de duas formas: como uma marcação cronológica (mudança de um ano para o outro) ou como um “novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, / mas com ele se come, se passeia, / se ama, se compreende, se trabalha”.

Explique essa segunda definição dada pelo eu lírico com base na leitura do texto.

Ao longo do poema, o eu lírico dá instruções, dicas e sugestões do que cada indivíduo deve fazer para ter um ano novo realmente diferente e bom. Dessa forma, o leitor é incentivado a acreditar que é preciso ter atitude, é preciso fazer de novo, agir e se fazer merecedor de um novo ano melhor que o anterior, pois o ano novo está dentro de cada um de nós, aguardando a oportunidade de chegar e de acontecer.

5. Umas das ações que o eu lírico alega não ser necessária para se ter um “belíssimo ano novo” é a seguinte: “Não precisa fazer lista de boas intenções / para arquivá-las na gaveta.”

Explique o que ele quis dizer com essa afirmação.

Segundo o eu lírico, as pessoas fazem promessas, listas de ações e/ou de projetos que desejam realizar, mas acabam deixando-as de lado, esquecendo-se das intenções feitas na mudança de um ano para o outro. Por isso, não há necessidade de agir dessa forma.

6. Quando o eu lírico diz, em meio às suas orientações para um bom ano novo, que “Para ganhar um ano novo / que mereça este nome, / você, meu caro, tem de merecê-lo, / tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil”, ele afirma que sabe que essa tarefa é difícil, assumindo a mesma condição do seu interlocutor.

O que é possível deduzir com base nessa afirmação? Comente sua resposta.

Quando o eu lírico se coloca na condição do seu interlocutor, alegando que sabe que não é fácil ser merecedor de um ano novo realmente bom, ele assume que também age como aqueles para os quais passa instruções para um novo comportamento, ou seja, ele admite que também precisa mudar de comportamento e de atitude para ser merecedor de um ano melhor que o anterior.


7. O eu lírico de Drummond finaliza o poema dizendo que “É dentro de você que o ano novo / cochila e espera desde sempre.”.

O que esses versos significam dentro do contexto construído ao longo do poema? Você concorda com essa afirmação? Por quê?

Os versos finais do poema “Receita de ano novo” expressam a ideia de que os únicos responsáveis por um ano novo realmente bom e diferente somos nós, cada leitor desse poema, pois é dentro de cada pessoa que está a resposta para uma vida próspera. Não basta a mudança cronológica de um ano para o outro, são as mudanças comportamentais e atitudinais que farão a verdadeira diferença.


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