Leia o poema, a seguir, de Raul Bopp.

Herança

— Vamos brincar de Brasil?

Mas sou eu quem manda.

Quero morar numa casa grande.

... Começou desse jeito a nossa história.

Negro fez papel de sombra.

E foram chegando soldados e frades.

Trouxeram as leis e os Dez Mandamentos.

Jabuti perguntou: “— Ora é só isso?”

Depois vieram as mulheres do próximo.

Vieram imigrantes com alma a retalho.

Brasil subiu até o 10o

andar.

Litoral riu com os motores.

Subúrbio confraternizou com a cidade.

Negro coçou piano e fez música.

Vira-bosta mudou de vida.

Maitacas se instalaram no alto dos galhos.

No interior

o Brasil continua desconfiado.

A serra morde as carretas.

Povo puxa bendito pra vir chuva.

Nas estradas vazias

cruzes sem nome marcam casos de morte.

As vinganças continuam.

Famílias se entredevoram nas tocaias.

Há noites de reza e cata-piolho.

Nas bandas do cemitério

cachorro magro sem dono uiva sozinho.

De vez em quando

a mula sem cabeça sobe a serra.

ver o Brasil como vai.

(BOPP, Raul. Cobra Norato. Semana de 22: antecedentes e consequências. Exposição comemorativa do cinquentenário. Patrocínio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo, Conselho Estadual de Cultura, Masp, 1972, p. 91.)

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1. O poema apresenta, de forma irônica, a chegada dos colonizadores em território brasileiro. Como foi esse primeiro contato? Explique a sua resposta.

Segundo o eu lírico, o primeiro contato com os colonizadores foi um momento conflituoso, pois houve imposição em relação à influência dos povos que aqui aportaram, imprimindo suas vontades, mandos e desmandos.

2. Uma leitura atenta do poema leva-nos à concepção de dois brasis distintos: um, encantado com a influência dos colonizadores; outro, agonizando em meio à ausência dessas condições. Analisando o título e esse contexto, qual é a ideia central do poema?

A ideia central do poema gira em torno da chegada dos colonizadores e das consequências desse contato, fato que gerou centros distintos em relação à diversidade cultural brasileira: de um lado, a diversidade; do outro, a precariedade.

3. Uma imagem foi firmada ao longo dos versos: a de que a colonização brasileira aconteceu em meio a mandos e desmandos, debaixo de imposições e de intransigências. Transcreva do poema versos que comprovem essa afirmação.

Exemplos: “– Vamos brincar de Brasil? / Mas sou eu quem manda”, “E foram chegando soldados e frades / Trouxeram as leis e os Dez Mandamentos”.

4. É possível pensar numa possibilidade de resistência por parte dos nativos brasileiros, demonstrada ao longo do texto poético, no início do processo de colonização? Se sim, copie o(s) verso(s) que poderia(m) representá-la. Se não, explique o porquê de sua resposta.

Em conformidade com as ideias do poema de Raul Bopp, é possível identificar um indício de resistência, que pode ser identificado no verso “Jabuti perguntou: ‘– Ora é só isso?’”, pois jabuti pode representar determinada tribo indígena brasileira, todos os indígenas brasileiros e até a natureza rebelando-se contra as imposições dos colonizadores.


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